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  • Foto do escritorGuilherme Sant'Anna - Psicólogo

PSICOnews | Quando alguém trapaceia numa argumentação - como se proteger de algumas falácias


Sabe quando aquele tio do pavê fala uma estupidez numa reunião de família, com a pose de quem deu um argumento inquestionável? Ou quando aquele político desvia de um tema para não debatê-lo racionalmente? Muitas vezes, aquilo que parece um argumento nada mais é do que uma falácia - um raciocínio errado que parece verdadeiro, mas que pode ser incoerente logicamente, inválido, falho em provar o que alega ou sem fundamento.


O debate de ideias talvez não seja a coisa mais comum nos dias de hoje. Afinal, o que muita gente sente não é uma abertura à argumentação racional, mas uma radicalização e o agarramento apaixonado a pontos de vista. Mas, se você se preocupa em justificar suas ideias e em não aceitar as coisas sem refletir, é bom saber sobre as falácias. Elas são várias, e remontam à antiguidade. Aqui veremos duas delas, bastante comuns atualmente.

A primeira é a falácia da analogia, a qual consiste na assunção de que, se duas coisas são parecidas em um aspecto, devem ser em outros. Um exemplo muito cotidiano, dito na mídia, ou até por ministros da economia, é esse: “o governo federal precisa, como qualquer dona de casa sabe, gastar menos do que ganha.” Essa falácia aparece com mais força em momentos de crise, para justificar cortes de gastos públicos, como as famílias fazem com seus gastos.


Além do machismo explícito na frase, está implícito nesse tipo de declaração que contas públicas e contas domésticas são similares. Governos e famílias gastam com saúde, educação, moradia, cultura - e sim, são parecidos nestes aspectos. O problema está em assumir, por conta disso, que o orçamento público é igual a um orçamento familiar. Igualar essas coisas é problemático em alguns pontos, mas vou me deter apenas em um: se você, em sua família, tivesse o poder de criar sua própria moeda para pagar pelo que você precisa e, mais do que isso, tivesse o poder de fazer todas as pessoas do país aceitarem sua moeda como meio de pagamento - poderes que o governo federal tem - sua forma de pensar seu orçamento seria a mesma?


A resposta provavelmente é não. Então por que o orçamento federal seria igual ao seu? Obviamente, a questão não se reduz à emissão de moeda. No entanto, só esse ponto já basta para percebermos a diferença e mostrar a fraqueza da comparação.


A segunda falácia que vamos abordar é a da bola de neve. Ela é chamada assim por conta da imagem de uma pequena bola de neve, rolando morro abaixo e crescendo de tamanho, ficando enorme e com grande potencial destrutivo. Ou então, pode ser representada por outra imagem: como se um único passo em uma determinada direção devesse, inevitavelmente, levar a andar todo um percurso até o fim. Sim, há situações em que um único passo é decisivo e catastrófico, como no acionamento de uma bomba atômica. No entanto, em grande parte das situações da vida, há como escolher se vamos adiante ou não.


Por isso, essa falácia costuma ser empregada para resistir a mudanças - partindo da ideia de que, se uma mudança ocorrer, uma reação em cadeia será necessária e levará a consequências terríveis. Se você já presenciou discussões sobre a legalização do aborto, da maconha, do casamento homoafetivo, ou sobre taxação de grandes fortunas, é provável já ter ouvido algo como: “se legalizarem o aborto as pessoas vão parar de usar contraceptivos, vão engravidar e abortar em seguida. Logo vai ter mais médicos para fazer abortos do que partos, mais gravidez interrompida do que gente nascendo”. Ou então: “Se taxarem grandes fortunas os ricos vão fugir do país, levando dinheiro e empreendimentos para fora. Mais um pouco e aqui vira um país comunista.”


No primeiro exemplo, a falácia está julgar inevitável que a legalização do aborto faça com que as mulheres passem a preferi-lo em vez de métodos contraceptivos, o que chegaria ao ponto de ultrapassar o número de nascimentos. No segundo, ainda que faça sentido que os ricos fujam caso seja criado um imposto sobre grandes fortunas, isso não necessariamente transforma um país capitalista em comunista. Há diversos países com impostos sobre grandes fortunas que seguem sendo capitalistas.


Esses foram alguns poucos exemplos de falácias encontradas no dia a dia, mas elas são mais frequentes do que se pensa. Costumam aparecer em conversas com amigos, debates políticos, textos nos jornais, discursos religiosos etc. Conhecê-las é importante para não se deixar enganar por raciocínios inconsistentes e, principalmente, se defender de tentativas trapaceiras de manipulação.





*Guilherme Sant'Anna é psicólogo (CRP 05/57577) formado pela UERJ e atualmente cursa o mestrado em Psicologia Social nessa mesma universidade. Ele realiza atendimentos de psicoterapia online, se você quiser entrar em contato pode fazê-lo pelos seguintes meios:


Medium: https://medium.com/@guilhermesantannapsi Whatsapp: (21) 988021858

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