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Foto do escritorGuilherme Sant'Anna - Psicólogo

PSICOnews | Ansiedade: um mal do nosso tempo


Nossa relação com o tempo é fundamental para o modo como experimentamos nossas vidas, ainda que não pensemos muito a esse respeito. Em nossa cultura, julgamos que o tempo é linear, composto de passado, presente e futuro, como uma sequência de momentos irrepetíveis, como uma flecha lançada ao infinito. Mas existem outros modos de pensar e viver a temporalidade. É possível se pensar o tempo como circular, o antes como algo que retornará, e o agora como o seu desvelamento. Quem acompanhou a história de Hodor, no seriado Game of Thrones, viu um exemplo disso. Nas culturas maia ou grega antiga também se pensava o tempo circular.


Mas o tempo não varia apenas nesse sentido amplo de compreensão. É possível experimentar suas variações em nossas vidas: é bem provável que você viva o tempo de maneiras diferentes quando está feliz ou triste; quando está na companhia de pessoas queridas ou quando faz uma atividade desagradável; no trabalho ou no lazer; na infância ou na velhice. O tempo faz parte de nosso ser, talvez da parte mais fundamental dele. Diversos pensadores dizem que a dinâmica essencial da existência humana é o fato de nos constituirmos historicamente. Em outras palavras, consideram que é a nossa relação com o tempo que nos faz como somos.


O texto é sobre ansiedade e, se você se considera uma pessoa ansiosa, é possível que tenha ficado incomodada por ele não ter ido direto ao assunto. Acontece que eu preferi falar primeiro daquilo que fundamenta algo como a ansiedade: nossa relação com o tempo. E isso é uma coisa que fazemos o tempo todo, mas para a qual não costumamos atentar. Sempre nos relacionamos de alguma forma com o tempo.


Experimentamos nossas vidas com as dimensões do antes, agora e depois, e estar ansiosa/o é uma forma de estar nesse fluxo. O que hoje chamamos de ansiedade é um afeto, uma apreensão direcionada ao futuro. Ainda que costume ser tratada como um sintoma, como algo que pode fazer parte de um transtorno, preocupar-se pelo porvir é próprio da existência humana. Assim, essa preocupação acontece por ser uma condição existencial, mas depende da época em que vivemos. Por isso deixei o título do texto ambíguo - Ansiedade: um mal do nosso tempo - porque a ansiedade tem a ver com o modo como vivemos o tempo de nossa vida, mas também com nosso tempo histórico. Os motivos pelos quais ansiamos, o fato de essa preocupação ser considerada um mal, nossas concepções de futuro, tudo isso não está descolado do mundo em que vivemos.


Em vez de se pensar que deve ser eliminada ou silenciada, a ansiedade pode ser compreendida como um modo de ser tocada/o pelo futuro, como um elemento importante para o autoconhecimento. No geral, os afetos são excelentes pontos de partida para uma investigação de nós mesmos. A partir deles podemos refletir: Quais situações, pessoas, coisas te deixam ansiosa/o? Pelo que você anseia? Quais possibilidades futuras inquietam? O que você teme que aconteça? O que faz querer que o futuro venha mais rápido, ou mais devagar, ou até mesmo que não venha?


Uma sugestão que costuma ajudar quando estamos ansiosos, antecipando demais o porvir, é prestar atenção na respiração - a qual acontece sempre no agora - e tentar diminuir seu ritmo. Também recomendo, quando se torna difícil lidar sozinha/o com esse afeto, buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica. Afinal, cuidar de si e do próprio tempo é importante demais para se ignorar ou deixar para depois.

Guilherme Sant'Anna é psicólogo (CRP 05/57577) formado pela UERJ e atualmente cursa o mestrado em Psicologia Social nessa mesma universidade. Ele realiza atendimentos de psicoterapia online, se você quiser entrar em contato pode fazê-lo pelos seguintes meios: Instagram: https://www.instagram.com/guilhermesantanna.psi/ E-mail: guilhermesantpsi@gmail.com Medium: https://medium.com/@guilhermesantannapsi Whatsapp: (21) 98802-1858


*Foto por Alec Bennett no Unsplash.


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