LITERATURAnews | Black Mirror: o espelho da era pós-moderna
- Priscila Batista Arcanjo

- May 30
- 3 min read

Lançada em 2011 no Reino Unido, a série “Black Mirror” aborda os efeitos que o avanço tecnológico pode ter na vida humana. Segundo o criador da série, Charlie Brooker, o nome da série refere-se às telas pretas dos dispositivos eletrônicos, que funcionam como “espelhos escuros” e refletem o lado obscuro da tecnologia e da sociedade.
A série adota uma abordagem literária pós-modernista ao abordar múltiplas realidades e questionar dilemas éticos gerados pelo avanço tecnológico. Logo nos faz refletir sobre como a tecnologia pode moldar ou distorcer a realidade, a identidade e os valores humanos.
“Black Mirror” possui atualmente 33 episódios distribuídos em 7 temporadas, além de um filme interativo. Para quem ainda não conhece a série, aqui vai uma breve descrição de alguns dos episódios mais famosos:
"Fifteen Million Merits" (1ª temporada) incorpora elementos da literatura pós-moderna, como intertextualidade e metalinguagem, para criticar o consumismo e a espetacularização da vida. Ambientado em um mundo distópico onde tudo gira em torno da produção de energia e do entretenimento, o episódio funciona como uma reflexão sobre o papel alienante da mídia. Um livro que tem relação com este episódio é “A Sociedade do Espetáculo” de Guy Debord. Neste livro, Debord critica a forma como o capitalismo transforma a vida social em um show de imagens e aparências, onde as relações humanas são mediadas pela mídia e pelo consumo. Segundo o autor, as pessoas confundem essas representações com a realidade, o que gera perda de consciência crítica e desumanização da sociedade.
“Be Right Back” (2ª temporada) questiona a possibilidade de substituir seres humanos falecidos por suas cópias robóticas. O enredo reflete temas centrais do pós-modernismo, como a fragmentação da identidade e a crise da autenticidade na era tecnológica. Além disso, revela a alienação provocada pela dependência da tecnologia para lidar com sentimentos profundos, como o luto, e evidencia seu papel ambíguo entre o conforto e a desumanização. Um livro que tem conexão com este episódio é “Simulacros e Simulação” de Jean Baudrillard. Neste livro, Baudrillard analisa como a sociedade contemporânea substitui a realidade por representações artificiais, chamadas de simulacros, e como essas simulações passam a ser percebidas como mais reais do que o próprio real chamado de hiper-realidade por ele. Essa reflexão se conecta diretamente ao episódio, que mostra como a tentativa de recriar uma pessoa falecida através da tecnologia resulta em uma presença vazia, que ilude, mas não substitui a experiência humana autêntica.
"San Junipero" (3ª temporada) discute a virtualização da consciência e a possibilidade de eternidade digital. A obra questiona os limites entre o real e o virtual e como a tecnologia pode reconfigurar a experiência do tempo, da morte e do afeto. Logo a narrativa se aproxima da noção pós-moderna do colapso das fronteiras entre o humano e o tecnológico.
"Nosedive" (3ª temporada), mostra uma sociedade onde as interações sociais são mediadas por um sistema de pontuação digital. A busca por aprovação alheia e a performatividade online revelam uma identidade moldada pela tecnologia sem autenticidade e regida por aparências. O episódio se assemelha à ideia de biopoder de Michel Foucault, na medida em que o controle social se exerce por meio de mecanismos sutis de vigilância e auto-regulação. A crítica que Foucault faz ao poder, ao saber e às instituições influenciou significativamente o pensamento literário pós-modernista.
A proposta central de “Black Mirror” é usar a ficção para explorar e criticar as consequências sociais e existenciais do uso da tecnologia na sociedade contemporânea. Enfim, somos levados a refletir sobre o papel da tecnologia na construção do nosso futuro e os desafios éticos que essa evolução traz consigo. A série também nos alerta para a importância de mantermos nossa humanidade em meio a um mundo cada vez mais digital.
Você já parou para se perguntar: até que ponto estamos conscientes dos impactos da tecnologia em nossas vidas? E como podemos preservar nossa humanidade diante de um futuro cada vez mais digital?
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