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  • Foto do escritorGuilherme Sant'Anna - Psicólogo

PSICOnews | A vida tem gosto de vinagre


Acho interessante como o ato de comer pode ter a ver com a forma como levamos a vida. Curiosamente, quando ainda muito novos, podemos comer alimentos ácidos ou amargos sem muito preconceito - quem já viu vídeos de bebês provando limão sabe disso. Essa disposição costuma se perder na infância e na adolescência, quando passamos a preferir o doce e, às vezes, retorna na vida adulta - o apreço por café, cerveja, pimentas, mostarda, etc. - alimentos que a maturidade pode fazer apreciar.

Pensar nisso me faz lembrar de um tema famoso na pintura chinesa, o dos provadores de vinagre. Existem várias representações de três grandes líderes espirituais do oriente, Confúcio, Buda e Lao Tsé tomando vinagre, e também inúmeras interpretações dessa cena.

Confúcio, conhecido por apregoar uma moralidade baseada em códigos de conduta, prova o vinagre e ele lhe parece azedo - assim como, provavelmente, lhe parece a vida sem ditames morais, sem orientações que eduquem as pessoas quanto ao certo e ao errado.

Buda prova o vinagre e o acha amargo. Ele é um pensador que constata o sofrimento inerente à condição humana, ao menos na forma como normalmente vivemos, e propõe um caminho para a libertação desse sofrimento. Talvez, para ele, o amargor estrague o vinagre assim como o sofrimento estrague a vida.

Lao Tsé prova e sorri. Não acho que ele sorri porque o vinagre lhe pareça doce, porque ele não tenha sentido a acidez ou o amargor. O ponto é que esse é o sabor do vinagre, e desfrutar dele como ele é pode alegrar. Isso é parte do pensamento de Lao Tsé, um personagem semi-lendário considerado o fundador do Taoísmo. Conta-se que ele deixou um texto escrito já idoso, quando um guarda de sua região lhe pediu um resumo de seu pensamento antes que ele saísse de viagem. Lao Tsé significa, literalmente, “velho mestre”, mas também pode significar “velho menino”.

Gosto de pensar que ambos significados para seu nome são apropriados, pois me parece que a sabedoria de Lao Tsé une a infância e a velhice: ao tomar o vinagre, tomar como quem o faz pela primeira vez, como criança que nunca tomou antes. Ao tomar, não torce a cara para sua acidez, afinal, a maturidade ensina que a vida pode ser bem mais ácida do que doce. A sabedoria está em saber que a acidez não impede de seguir provando as coisas, e que o sorrir tem mais a ver com a capacidade de apreciar a vida em sua naturalidade do que com seu sabor doce ou azedo. Guilherme Sant'Anna é psicólogo (CRP 05/57577) formado pela UERJ e atualmente cursa o mestrado em Psicologia Social nessa mesma universidade. Realiza atendimentos de psicoterapia online, você pode entrar em contato com ele pelos seguintes meios:Instagram: https://www.instagram.com/guilhermesantanna.psi/ Medium: https://medium.com/@guilhermesantannapsi E-mail: guilhermesantpsi@gmail.com Whatsapp: (21) 988021858

*Imagem: "The three vinegar tasters", por Kano Isen'In.

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