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Andressa Gonçalves - Estudante de Design de

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Como dizia Leonardo Da Vinci, “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível.” Seja pela pintura, escultura, música, ou em quaisquer de suas formas, a arte nos contagia, nos faz escapar da realidade, nos convida à reflexão e extrai de nós os pensamentos mais ocultos e profundos.

Para muitos grandes pensadores como Nietzsche e Oscar Wilde, a arte como um todo é indispensável em nossa vida. Por isso, nesta semana, comentaremos uma forma de arte que retrata à outra com carinho, o belíssimo filme Com Amor, Van Gogh.

“Eu quero tocar as pessoas com a minha arte. Quero que elas digam: ‘Ele sente profundamente, ele sente agudamente’.” Vincent van Gogh (Imagem retirada do filme)

Primeiramente, gostaria de me desculpar por estarmos disponibilizando a coluna com um dia de atraso, peço perdão pelo inconveniente e garanto que a espera valerá a pena!

Como você bem sabe, domingo passado (04/03), ocorreu a cerimônia de entrega de prêmios do Oscar, em Hollywood, Los Angeles. Nas semanas que precederam o evento, falamos um pouquinho sobre a história do Oscar, nossa principal aposta como grande ganhador da noite e seus principais concorrentes.

Dentre as categorias premiadas, tivemos a de Melhor Animação, que geralmente compreende os melhores filmes infantis do ano. Contudo, neste ano foi diferente, neste ano tivemos um concorrente que apesar de injustamente não ter ganho, respira arte desde o início de seu nome, até o final de seus 95 minutos de duração.

Com Amor, Van Gogh conta a saga de Armand Roulin, jovem encarregado por seu pai, carteiro e um dos melhores amigos de Vincent Van Gogh, a entregar uma carta que o pintor deixou para seu irmão, Theo Van Gogh. Durante o caminho, Armand descobre mais sobre a vida do pintor holandês pela ótica de vários personagens que conviveram ele, em diferentes oportunidades e momentos de sua vida. Em Arles, a fim de cumprir a missão a que fora incumbido, o jovem Roulin acaba intrigado pela morte do artista e inicia uma investigação para descobrir se ele realmente se matou ou se fora assassinado.

A estética do longa é belíssima e traz uma proposta diferente, logo de cara conseguimos perceber o cuidado e apreço com que foi feito. Em sua abertura, o espectador é informado de que a película fora composta apenas por pinturas à mão, feitas em tinta óleo, por mais de 100 artistas. No total, o filme contém 65 mil quadros.

A trilha sonora também é fantástica, casando muito bem com as pinturas expostas. As músicas detém um certo peso e dramaticidade, elas “aquecem” o coração e o reviram, equipam o espectador com toda a agonia, dor e sofrimento da história que está sendo contada. O filme é muito acertado no quesito “fazer você se colocar no lugar do personagem principal e simpatizar com ele”.

O enredo é cativante e prende a atenção. Apesar de em alguns momentos o filme ser um pouco lento e demorar mais do que deveria em certas cenas (como quando Armand persegue um rapaz que o seguia), o mistério da morte do artista, a jornada de Armand na entrega da carta, a perspectiva dos outros personagens sobre Van Gogh e as transições de cena muito interessantes, onde um quadro se transforma em um novo, definitivamente ofuscam esses pontos negativos.

Em minha opinião, deveria este ter sido o escolhido como melhor animação, devido a utilização de uma técnica até então inédita (um longa 100% feito em pintura a óleo), pela complexidade de sua narrativa e pela forma lúdica como abordou a vida de um dos maiores pintores do mundo.

Há uma cena muito bonita no longa, onde o personagem Père Tanguy (vendedor de tintas), explica a Armand que Vincent costumava dizer que, aos olhos de sua mãe, ele nunca seria tão bom quanto seu irmão mais velho, natimorto, o primogênito da família. Pouco depois dessa declaração, o foco da animação passa a ser a mãe de Vincent e, mais precisamente seus olhos. Observando atentamente, podemos ver que seus olhos são mais escuros e sombreados que outras partes de seu rosto. Essa técnica visa forçar a atenção do espectador literalmente aos olhos e reforçar a ideia de severidade, dor e luto que a mãe de Gogh sentia, e como isso refletiria em Vincent no futuro.

Imagem retirada do filme.

O filme é tão bom, que me peguei várias vezes reassistindo a mesma cena, a fim de “saborear melhor” o momento. Dois recursos bem interessantes foram utilizados aqui, apesar de ser um longa de animação: o primeiro foi usar o estilo de pintura característico de Van Gogh para retratar o presente, e apenas preto e branco associado a um estilo diferente de pintura para retratar cenas do passado do pintor.

(Obtida em: http://www.planocritico.com/critica-com-amor-van-gogh/)

O segundo foi “balançar” a câmera de forma a parecer desnorteada, zonza, o que foi excelente e transmitiu essa sensação de confusão e tontura ao espectador. Sendo em uma cena agitada, envolvendo bar e pessoas abusando de bebida alcoólica, ou em outra em que Vincent está ferido e tonto, o recurso trouxe maior realidade à obra, contribuindo assim para uma total imersão na narrativa.

Despeço-me com o trecho final do filme, convidando você a assistir ao longa (já disponível em serviços de streaming como o Netflix), e observar com detalhe e carinho, as belas pinturas, a excelente história e o casamento perfeito entre cinema e pintura apresentados nele:

“Na vida do pintor, a morte talvez não seja a coisa mais difícil. Digo que não sei nada sobre isso. Mas a visão das estrelas sempre me faz sonhar. Pergunto-me por que os pontos de luz no firmamento devem ser inacessíveis a nós. Talvez possamos usar a morte para ir a uma estrela. E morrer em paz, de senilidade, seria ir até lá a pé. No momento, vou para a cama, porque é tarde. Desejo a você uma boa noite e boa sorte. Meus cumprimentos. Com amor, Vincent.”

Andressa Gonçalves é futura jornalista. Como adora cinema, sempre pesquisa sobre paletas de cores, trilhas sonoras, curiosidades, e tudo o que pode sobre este universo. Mantém também o projeto bilíngue Expedição Musical, que toda semana apresenta ao grande público, novos talentos do cenário musical. Contato: miss.gonc00@gmail.com

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