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  • Fernanda Ramiro - Fonoaudióloga

FONOnews | Gagueira (parte 2)


Outra ideia também já superada, é a de que a terapia da gagueira em crianças pequenas deve ser indireta, isto é, os pais são orientados a lidar com seus próprios sentimentos relacionados à gagueira do filho, modificar suas atitudes e trabalhar sua aceitação. Na crença de que esta orientação é suficiente para resolver a gagueira infantil, a criança não recebia indicação de terapia. Esta ideia está sendo complementada com a indicação de terapia direta, isto é, após avaliação é agora freqüente a indicação de terapia, mesmo para crianças pequenas, o que a ajuda a lidar melhor com seu problema e superá-lo em menos tempo, com maior facilidade e menor sofrimento.

Também não merece mais crença a ideia muito difundida, até há pouco tempo atrás, de que a criança não tem consciência de sua gagueira e por isso não se deve comentar com ela sobre este problema. Os pais não deveriam falar com a criança sobre a gagueira e de nenhuma forma ser dito que ela gagueja. Percebe-se agora que a criança reconhece a sua gagueira e muitas vezes se fecha para a comunicação com medo de expressá-la, de ser notada e criticada. Nestes casos é preciso lidar com a verdade, fazendo-a entender que seu problema é notado e aceito e, principalmente, que existem meios para superá-lo. As crianças reagem positivamente a este enfrentamento e colaboram na terapia.

As pesquisas de Yairi revelam que a idéia difundida sobre o aparecimento gradual da gagueira infantil não é verdadeira. A gagueira pode surgir repentinamente, de forma intempestiva sem que haja um fator que a precipite. O senso comum tende a acreditar que um trauma físico, uma queda, por exemplo, um susto ou uma forte emoção pode ser responsável pelo surgimento da gagueira. Isto não é aceito pela comunidade científica.

Outra constatação, fruto de observação clínica e pesquisa é a de que não é verdadeira a idéia de que em seu início a gagueira é sempre leve, desprovida de tensão. Muitas vezes a criança apresenta gagueira severa, com tensão evidente que pode se manifestar em qualquer parte do corpo. Já vi crianças pequenas que apresentavam movimentos oculares durante a gagueira, movimentos de cabeça e pescoço que nada tinham a ver com o conteúdo comunicado, por exemplo.

Pesquisas têm revelado (Conture 2005) que os gagos são, em geral, mais sensíveis e reagem emocionalmente com mais intensidade do que os não gagos. As situações de estresse são mais freqüentes. A observação clínica confirma que as crianças gagas são sensíveis e mais vulneráveis, o que deve ser considerado durante o processo de avaliação e terapia.

Em síntese: a gagueira infantil é um problema que surge com considerável freqüência e que requer acolhida e tratamento especializado. Há fortes indicações de que a gagueira tem origem genética e fica claro que o seu aparecimento não depende do sentimento e atitude dos pais. A terapia direta é a mais indicada, embora com freqüência os pais precisem de orientação e participação no processo terapêutico. Mesmo em crianças pequenas e, ainda que não tenha sido diferenciada da disfluência infantil, a gagueira precisa ser avaliada, identificada e a ação muscular que a forma deve ser trabalhada em direção ao equilíbrio. Como indivíduo sensível, a criança reage emocionalmente à sua gagueira e por isso exige escuta, acolhimento e compreensão de suas dificuldades. A terapia, portanto, deve direcionar-se não só para a gagueira, mas também para a pessoa, seus sentimentos e atitudes. É indicado ainda que na terapia seja desenvolvida a consciência da gagueira e a percepção da possibilidade de fala fluente.

Fernanda Cunha Ramiro é Fonoaudióloga Fernandaramiro1@gmail.com

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