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  • Foto do escritorPedro Nascimento

Por corte de gastos, Programa Orquestra nas Escolas pode encerrar as atividades. Prefeitura se cala

Coordenadores, monitores e alunos lutam pela continuidade do programa que ajuda milhares de crianças da rede municipal de ensino. O projeto tem custo menor que R$ 18 por aluno

Atuante em mais de 50 escolas da rede municipal, com 18 orquestras, o programa "Orquestra nas Escolas - Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca" se tornou uma verdadeira política pública para a cidade do Rio. Apesar dos excelentes frutos, das diversas apresentações e até de turnês internacionais, o programa corre o perigo de encerrar as atividades, por estar no radar de corte de gastos da Prefeitura.


Fundado em 2017, o programa atua em diversas unidades escolares espalhadas pela cidade, atingindo hoje cerca de 12.558 alunos. A Orquestra nas Escolas ajuda na formação musical, no desenvolvimento de técnicas e, principalmente, abraça o sonho dos alunos, os fazendo acreditarem em seu próprio potencial. O programa também ensina à trabalharem em união, com disciplina e sempre ajudando o próximo.

Desde o início do projeto, essas crianças têm preenchido a cidade com música, ocupando lugares que anteriormente não eram representados por crianças e jovens de baixa renda. Maria Eduarda, de 14 anos, que faz parte da orquestra tocando clarinete, contou (vídeo abaixo) como foi sua experiência para entrar no projeto e se emocionou ao lembrar que a sua família pôde conhecer o Theatro Municipal do Rio através de sua apresentação:

"Tive a oportunidade de tocar com grandes artistas, em grandes lugares. Minha família pôde conhecer o Theatro Municipal graças a mim, foi uma sensação incrível e nem parecia que era real"

Izabelle Moraes, de 16 anos, percussionista e monitora do programa, conta que graças ao projeto, ela pôde frequentar lugares que antes não imaginava:

O Programa Orquestra nas Escolas foi de grande impacto na minha vida, porque ele me proporcionou momentos únicos, me levou a lugares que, se não fosse o projeto, eu não iria conhecer. E tem sido até hoje um grande aprendizado para a vida.

Izabelle completou exaltando a importância da monitoria, assim como o projeto mudou a sua vida e ela pretende mudar a vida de outras pessoas:

A monitoria é de extrema importância para nós alunos que queremos um dia ser professores também, pois estamos sendo basicamente preparados para ensinar e aprender cada vez mais. E assim como o programa mudou a minha vida através de muita música, eu pretendo fazer com outras pessoas.

Os alunos da orquestra realizaram concertos no Theatro Municipal, na Cidade das Artes, na Cinelândia, entre outros centros culturais importantes no Brasil e no exterior, com turnês na Espanha e nos Estados Unidos. Os alunos também já se apresentaram ao lado de grandes artistas da musica brasileira, como: Elba Ramalho, Toni Garrido, Guilherme Arantes, Moraes Moreira, Dado Villa-Lobos, João Bosco, Toquinho e DJ Malboro.

Apesar dos excelentes frutos que são gerados na vida dos alunos e, por consequência, na sociedade carioca, o programa corre o risco de encerrar as suas atividades, por estar no radar de cortes da Prefeitura. Desde janeiro, a coordenação do projeto tem buscado incessantemente o diálogo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), porém ainda não receberam nenhuma comunicação objetiva e concreta sobre o destino dos mais de 12 mil alunos.


Na última quarta-feira (28/05), o Secretario Municipal de Educação, Renan Ferreirinha, durante uma live em rede social pessoal, disse que alguns projetos extra-curriculares, dentre eles o Orquestra nas Escolas, estão sendo reavaliados pela questão financeira muito grave. Em nota, a SME ratificou a fala do secretário, esclarecendo que por causa da crítica situação financeira em que se encontra o município, estão avaliando a continuidade de projetos da rede.


Após sete dias de inúmeras tentativas de contatos por e-mails, telefonemas e aguardando prazos que não foram cumpridos, até o fechamento desta reportagem, a Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento (SMFP) e o Prefeito Eduardo Paes não se pronunciaram sobre quais foram os critérios utilizados para definir o corte de gastos. Esses também não explicaram se um projeto, que apresenta excelentes resultados e tem importância sociocultural na vida de mais de 12 mil alunos da rede municipal de educação, é considerado gastos.

A coordenadora do programa Orquestra nas Escolas, Moana Martins, defende a permanência do projeto pela sua relevância social e educacional na vida dos alunos, das famílias e comunidades:

Colocar de pé um programa desta dimensão foi resultado de um processo árduo e cuidadoso, por isso a sua paralisação seria algo irreversível, irreparável. Não se derrubam escolas, hospitais, pontes, porque haveria de se destruir um Programa como este? Com resultados e impactos tão tangíveis e concretos? São muitos investimentos, recursos humanos, financeiros e principalmente, a representação de sonhos e do protagonismo de milhares de crianças e suas famílias.

Moana completou com otimismo, acreditando na continuação do projeto:

Mantemos a nossa confiança de que a secretaria irá rever a sua posição diante da importância que o Programa tem para a formação humana, cidadã e acadêmica dos milhares de alunos da educação pública que participam dele, estendido às suas famílias e comunidades.

A possibilidade do fim do programa é algo que assusta, principalmente os alunos participantes. Muitos deles vêem no projeto a possibilidade de evoluírem musicalmente e conquistarem um futuro melhor, o que pode mudar a vida de suas famílias. É o que conta a cantora mezzo-soprano Hellen Galdeano, de 16 anos, moradora de Realengo e que faz parte da Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca há três anos:

A minha experiência musical na orquestra foi essencial. Cada processo e cada passagem de som, foi muito importante para o meu crescimento e desenvolvimento musical, gerando muitas oportunidades. Nós recebemos uma bolsa para ajuda. Somos bolsistas do projeto e têm muitos alunos que necessitam desse valor para estar ajudando na carreira profissional e também para ajudar em casa. É muito triste pensar como eles ficarão tendo esta necessidade. É um trabalho e é isso queremos: trabalhar com a música, que é o que gostamos, e poder ajudar nossos pais em casa.

Hellen também falou sobre como o projeto gerou benefícios, abriu oportunidades para sua carreira de cantora gospel e fez um apelo às autoridades municipais:

Comecei a fazer técnicas que antes eu não conseguia realizar. Isso tudo foi graças ao projeto. Pude cantar para o presidente da República e participar de muitas outras apresentações. Conheci lugares que nunca imaginei que poderia conhecer, são experiencias que levarei para minha vida toda. O projeto trouxe melhorias, desenvolveu e ampliou o desenvolvimento na minha carreira musical gospel. Quero fazer um apelo à Prefeitura do Rio, ao Prefeito e a toda Secretaria de Educação: não acabem com o nosso sonho, não acabem com a nossa família. A cultura é o futuro do nosso país.

Com a chegada da pandemia, todas as atividades do cotidiano mundial tiveram que ser modificadas e readaptadas. No Orquestra nas Escolas não foi diferente. Desde março de 2020, as aulas continuaram através das plataformas digitais, o que foi fundamental para o fortalecimento dos vínculos emocionais dos meninos e meninas e de suas famílias. A violonista Kaylane Mattos, de 12 anos, explicou (vídeo abaxo), como as atividades virtuais foram importantes para sua vida neste momento de pandemia. Kaylane também contou um pouco da sua experiência no projeto e fez um pedido as autoridades:

Desde o ano passado, por causa da pandemia, eu perdi muitos familiares. A Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca virtual, foi muito importante para eu suportar tudo isso. Estamos aqui pedindo muito apoio à Secretaria Municipal e à Prefeitura do Rio, para que este projeto continue transformando vidas, como transformou a minha.

A missão do Orquestra nas Escolas é contribuir com a construção de um município cada vez mais dinâmico e inclusivo, que tenha na educação e na cultura eixos fundamentais para o desenvolvimento sustentável. Um projeto que trouxe transformações na vida de milhares crianças e tem um custo menor que R$18 por aluno, não pode ser tratado como gastos, independente dos critérios.


Fotos e vídeos: Orquestra nas Escolas/Divulgação


NOTA DA REDAÇÃO:

Após a matéria ser colocada no ar, uma das personagens entrevistadas pediu que a matéria fosse retirada, devido problemas com a Prefeitura, por motivos que ela explicou. No entanto, seguindo os preceitos jornalísticos, entendemos importante manter a matéria no ar, diante do fato grave no qual a Prefeitura sequer quis comentar.


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