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  • Foto do escritorAlexandre Madruga

Morador de Magalhães Bastos apresenta projeto inovador em feira técnica da Faetec em Quintino

A maquete da estação de tratamento mostra todo o passo a passo para criar a água de reuso

O engenheiro eletricista e morador de Magalhães Bastos, Francisco Casimiro, 70 anos, apresentou na última quinta-feira (19), na 21ª Feira na Semana de Cultura, Ciência e Tecnologia (SCCT) da Escola Técnica Estadual República (ETER), Faetec em Quintino, a maquete de uma estação de tratamento de esgoto para reuso de água. A apresentação foi um convite do professor de eletrônica da ETER, Marcos Fernando, e segundo o criador, o uso da estação pode reduzir o consumo de água em até 50%.

“Eu tenho um apelo ecológico muito grande. Fiz pós-graduação na COPE de engenharia ambiental. Sempre tive preocupações com os nossos recursos naturais. Hoje, tratar água potável no Rio de Janeiro, do reservatório de Guandu é um desafio imenso. E são custos imensos para tratar aquela água potável. Então, essa água é canalizada nas tubulações do rio e chega em nossas casas para as nossas necessidades. E essa mesma água que eu bebo, que eu lavo as mãos, que eu tomo banho, faço comida, ela vai para o vaso sanitário. Desperdiçam para o mictório, limpeza de piso, rega de jardim, limpeza de carro, construção civil. Estou tentando criar uma concepção para as pessoas, que nós temos que repensar em definir duas águas. A água saudável, potável, para a nossa saúde, para as nossas necessidades. E aquela água que é necessária para outros fins, como a necessidade de limpeza dos nossos banheiros, limpeza do piso, atividades de construção civil. Então o que eu faço? Eu trato a água.

A maquete da estação de tratamento mostra todo o passo a passo para criar a água de reuso, como explica Francisco.

“Tem duas caixinhas na estação que representam cargas não nobres, que são os vasos sanitários, mictórios, limpeza de piso, rega de jardim, limpeza de carro, construção civil. Eu estou simbolizando na estação, e ela está recebendo o esgoto também das cargas de chuveiro, lavatório. Todo líquido que sai da residência, tu tratas? Eu trato. Tem uma caixa de recepção do esgoto. E este esgoto sai para um reator que tem o viés do tratamento biológico, e ela tem quatro subdivisões. O reator anaeróbico, onde estão os micro-organismos sem oxigênio, e este micro-organismo, eles degradam a matéria orgânica que é o nosso dejeto, e 70% dela se converte em gás natural. Esse gás natural move automóveis, o nosso fogão. O reator anaeróbico é o primeiro estágio do tratamento”.

A apresentação da maquete na Faetec trouxe frutos para evolução da estação de tratamento. Alunos do Curso Técnico em Eletrônica, vão criar um aplicativo para que toda operação do equipamento fique automatizada.

“Aqui na Faetec República, a escola aqui, através do professor Marcos, está querendo migrar essa ideia para o pessoal da eletrônica fazer um projeto de informática onde nós vamos automatizar isso. Por exemplo, um sensor vai detectar que tem pouco alimento para as bactérias do primeiro estágio da limpeza, então será necessário abastecer esse tanque. Eu tenho que colocar. E manda um sinal. E pode até acoplar um mecanismo de abrir o produto, cair e fechar. Colocar na dosagem certa”.

Após passar do primeiro estágio, vem a segunda etapa, onde 70% da matéria orgânica foi degradada.

“Na segunda fase vamos para o reator aeróbico, onde estão outros tipos de bactérias. Elas vão degradar o que faltou. E tem a propriedade de clarear aquele esgoto que está escuro. Aquela coisa cinza que é o escuro. Então, a bactéria aeróbica tem essa função de clarear e depois que ele faz esse trabalho, eu vou para o decantador, onde os elementos sólidos mais pesados vão para o fundo da caixa”.

Passada essa etapa, o elemento líquido clareado sobe e a próxima etapa é a cloração.

“Através de cloração com medidas adequadas, eu torno esta água límpida, sem cheiro. Com 90% sem matéria orgânica. Ou seja, apta a ir ao vaso, ao mictório, a limpeza de chão, mas não é potável, não pode beber essa água. Essa é a água de reuso. Eu poderia, através de uma engenharia mais apurada, torná-la também potável. Os astronautas que estão lá naquela estação espacial usam esse equipamento, mas para nós ficaria caríssimo para a nossa realidade, não daria certo”.

Após todo o processo, a água de reuso é colocado numa cisterna específica. E aqui, surge o desafio que Francisco, que seria uma mudança primordial na construção das novas casas, com a separação da água potável e de reuso, até com tubulações distintas.

“Esse é um desafio de mudanças de paradigmas. Tenho um barrilete de água de cargas não nobres, a água para reuso. E eu tenho outro barrilete de cargas nobres, que é a potável. Mas seria mudar a construção tradicional de 98% dos prédios. Então essa realidade, para implementar, precisaria de uma mudança de conceito muito grande. Imagina ter uma tubulação de águas nobres e uma tubulação de águas não nobres. Para isso eu teria que ter uma concepção, uma nova caixa d'água”.

Mas o projeto já foi implementado na prática, numa fábrica em São Cristóvão. E a redução da despesa com a conta de água foi de 50%.

“A conta de água dele era em torno de R$ 12 mil. Quando eu botei essa estação, passou para R$ 6 mil, ou seja, o investido na construção da estação, se recuperou em no máximo 4 anos de uso. Isso sem falar da questão ecológica. Sem falar da questão de eu estar dando, na economia do universo, uma outra dinâmica. Você sabe que a água vai ser o grande desafio da humanidade nos próximos anos. Será mais caro do que o petróleo. Os países que estão de olho na Amazônia, de olho na água doce. Nós somos potência mundial de água doce”.

Apresentar o projeto da estação de tratamento na Faetec é de grande importância para Francisco, pois entende que mudanças começam dentro da academia.

“Entendo que a escola é a usina da educação, um elemento motor de exportar ideias que venham quebrar paradigmas para o bem da nossa sociedade. Vou implantar isso na cabecinha deles, para eles no futuro, quando serem profissionais, alargar e empurrar essa ideia. Mais e mais pessoas pensando assim. A gente pode mudar essas coisas”.

Francisco é figura conhecida também em Jardim Sulacap. Na Eco-Sulacap, um projeto de replantio popular, ele criou um sistema de tratamento de água que funcionou por muitos anos e durante anos teve participação ativa nas atividades ecológicas. Ele também teve iniciativas junto a Horta Comunitária da Praça Quincas Borba.


Quando questionado sobre a importância de apresentar para os alunos em verem a ideia de uma estação de tratamento para água de reuso, Francisco reflete sobre a importância de fazer algo pelo meio ambiente de forma sustentável, mas faz um sério questionamento.

“Essa é uma pergunta filosófica. Então, eu estou aqui por um ideal. Eu me considero, eu todos aqui da Faetec, partícipes de um mundo melhor. De um mundo em que aproveita bem os recursos do planeta Terra para minimizar, mitigar as desigualdades sociais. O homem tem que ter condições nobres para viver. Ele tem que beber uma água potável, saudável. Ele não tem que pisar em ralo de esgoto, meu Deus. Como as pessoas ricas da Barra da Tijuca jogam o seu esgoto na lagoa? Será que nós não podemos mudar essa concepção?”

Uma pergunta que está sem resposta há muitos e muitos anos.

 

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