"Quis me proteger": após boatos de atentado, aluno leva faca e frigideira, e acaba expulso
Atualizado: 23 de mai. de 2022
Escola particular da Zona Oeste optou pela expulsão de jovem de 11 anos no início de maio, mesmo com aluno tendo comportamento exemplar
Morador do Sobral, em Magalhães Bastos, tinha quatro anos quando entrou no Colégio Francisco de Assis, em Realengo. Segundo a mãe, o jovem que terá a identidade preservada, nunca teve nenhuma ocorrência que desabonasse a conduta, jamais recebeu reclamações da escola, era bom aluno, tinha boas notas e estava no 6º ano.
“Meu filho é uma criança educada, extrovertido, uma criança normal na idade dele. Nunca respondeu ninguém, nunca brigou com ninguém”, ressaltou a mãe.
O filho da assistente financeiro Jaqueline dos Santos Pereira, estava com medo de ir à escola naquela quarta-feira, 11 de maio, por conta de boatos no colégio no dia anterior.
“No dia 10 de maio, quando fui buscar meu filho no colégio, ele já estava sabendo do ocorrido, do tal massacre que disseram que teria nas escolas. Ele soube da notícia dentro do colégio, por meio de outros alunos, não só ele, mas todos da turminha dele”, disse Jaqueline.
Segundo a mãe, saindo da escola e a caminho de casa dentro do carro, o menino mostrava-se assustado, questionando se ela sabia do massacre que aconteceria na escola. Apesar de Jaqueline falar que tudo era boato, no dia seguinte o jovem acordou falando do atentado que poderia acontecer. A responsável seguiu os preparativos rotineiros para a ida dele à escola, arrumou a mochila do filho, colocou o material escolar e pediu ao sogro para levá-lo para escola, pois naquele dia tinha que trabalhar. Mas, na ausência de Jaqueline, o jovem colocou na mochila uma faca e frigideira. Na escola, um colega de turma percebeu o que tinha levado e o professor, ao descobrir, encaminhou o aluno para a secretaria e a direção pediu a presença imediata da mãe.
“A diretora me disse que era muito grave, teve uma repercussão grande dentro e fora da escola. Perguntei o que meu filho havia falado pra ela e ele respondeu que era pra se defender do massacre, se tivesse na escola e que não iria machucar ninguém. Eu disse a ela que meu filho errou em ter levado a faca, mas em nenhum momento ele se exibiu, ameaçou ou machucou alguém”, relatou Jaqueline.
De acordo com a mãe, a diretora relatou que o aluno infringiu o “artigo 68” da escola e mesmo sabendo de todo histórico positivo do aluno na unidade, a conduta era grave e que o jovem estava suspenso por sete dias e que, após avaliação do conselho disciplinar, poderia ser expulso. Também foi recomendado que o filho fosse para um psicólogo, para que um documento e encaminhado para a unidade escolar.
“A psicóloga fez um documento que meu filho a partir daquela data estaria aos cuidados dela. Na quinta-feira eu levei o documento para o colégio e a diretora disse que iria anexar o documento, que seria positivo para o conselho essa iniciativa. Garanti que meu filho não tinha problema nenhum, não tomava nenhum remédio e era querido na escola, mas mesmo assim me a diretora me disse que tinha grande possibilidade de ser expulso”.
Desesperada e aos prantos, Jaqueline ainda suplicou que fosse avaliada toda a conduta do filho ao longo de anos no colégio, mas, um dia depois, na sexta-feira (13), foi comunicado que o aluno “foi desligado pela infração que cometeu”.
“Meu filho já estava acostumado a escola desde pequeno, com os professores, com amiguinhos de anos e não se preocuparam com o psicológico do meu filho, que só tem 11 anos. Eles resolveram o problema deles expulsando meu filho, mas sou eu que vou ter que cuidar da cabeça dele, escolher outra escola, uniforme, tudo. Foi um constrangimento e um sofrimento para meu filho, que foi julgado, nunca viveu isso. Era obrigação da escola ir nas salas de aula e tranquilizar os alunos com o que aconteceu, principalmente na turma do meu filho. Mas a diretora argumentou que essa não era a responsabilidade deles e sim dos pais, mas o boato do massacre veio de dentro da escola e dentro da escola a responsabilidade é da escola”, sentenciou Jaqueline.
Para a psicóloga Ericka Gama Adversi, com MBA em Desenvolvimento Gerencial Avançado com ênfase em Gestão de Pessoas e especialista em Logoterapia e Análise Existencial, a escola precisaria fazer uma avaliação mais profunda da situação.
"Sabemos o quanto é importante que as escolas possam impor limites e criar obrigações, porém esta precisa fazer uma análise cuidadosa diante do caso ali apresentado, para que não aja de forma autoritária ou abusiva, ou acima das imposições legais".
Uma mãe de aluno, que preferiu não identificar, condenou a atuação do Colégio Francisco de Assis em expulsar o aluno:
"Uma criança que não tem nenhum histórico agressivo na sociedade, ao invés de receber o apoio da escola para que, de alguma forma, consiga entender essa onda de supostos ataques, simplesmente foi EXPULSA, sem a chance de se defender!!! UMA VERDADEIRA ARBITRARIEDADE, AUTORITARISMO, EXCESSO E INJUSTIÇA!!! Não é crível que uma escola que se diz a melhor da região, trate com tamanha indiferença, frieza, negligência um caso tão ímpar de uma criança que tinha a melhor das intenções: DEFENDER A SI E AOS SEUS AMIGOS!!! Como pode uma escola que brada aos quatro cantos sua reputação, não oferecer nenhum suporte, nenhum acompanhamento para um aluno tranquilo, que nunca causou problemas na escola, que portava um parecer psicológico atestando sua sanidade mental, que simplesmente estava com medo de um iminente massacre anunciado? Como pode essa escola expulsar uma criança de um dia para o outro sem sequer dar a chance de defesa? Os pais dos alunos dessa turma estão extremamente transtornados e incrédulos com a expulsão dessa criança da escola e, por este motivo, vêm solicitar a ajuda de todos os veículos de mídia para tentarem reverter essa expulsão abusiva e exorbitante. NÃO VAMOS DEIXAR ESSA INJUSTIÇA ACONTECER!!!".
Num grupo de rede social, os pais de outros alunos da mesma turma se mostraram surpreendidos e revoltados com a atitude da direção da escola, reforçaram as qualidades do filho de Jaqueline e alguns até relataram que iriam pedir a volta do jovem.
Após ver o filho chorando depois de contar que ele não voltaria para escola, Jaqueline ficou dias sem dormir, entrou em depressão e agora, busca um novo lugar para matricular o menino, mas disse que vai processar o Colégio Francisco de Assis.
“Vou pedir danos morais por conta do constrangimento e da exposição do meu filho. Danos materiais porque vou ter que matricular ele em outro colégio e gastar tudo de novo, já no meio do ano, podendo prejudicar o ano letivo dele. E também ressarcir todas as consultas do meu filho no psicólogo, porque eu terei que pagar, pois agora ele precisa”.
Para a advogada Marina dos Reis Batista, com pós-graduação em Direito Civil, Processo Civil e Direito Empresarial (Direito Privado), as instituições de ensino têm o direito e o dever de impor limites e criar obrigações, mas eventuais sanções disciplinares não podem ferir o princípio da legalidade, a fim de garantir, ainda que em âmbito administrativo, o devido processo legal, mediante direito à ampla defesa e ao contraditório.
"Ademais, tais sanções não podem afrontar a garantia constitucional ao acesso e permanência na escola (artigo 206, I da Constituição Federal), nem acarretar vexame ou constrangimento indevido aos alunos, sob pena de serem tomadas as medidas judiciais cabíveis, ante a notória violação dos Direitos de Crianças e Adolescentes".
O Colégio Francisco de Assis foi procurado para se manifestar, mas até a publicação dessa reportagem, não se manifestou.
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