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  • Foto do escritorGuilherme Sant'Anna - Psicólogo

PSICOnews | Será que tudo que acontece tem a ver com você?


Será que tudo que acontece tem a ver com você? Tenho assistido ao BBB recentemente e algo que me chama a atenção é como as pessoas lá dentro tendem a interpretar os acontecimentos como se dissessem respeito a elas. Isso, obviamente, não ocorre apenas lá dentro - é muito frequente pensarmos dessa forma aqui fora, seja num âmbito mais individual ou como espécie humana: “Só porque decidi sair para correr começou a chover - o universo não me quer praticando exercícios”, “A covid-19 veio para punir os erros da humanidade”.

Talvez as pessoas no BBB só me chamem a atenção por estarem sendo filmadas, e pelo contexto de confinamento favorecer esse tipo de interpretação. Quando o apresentador diz alguma coisa, por exemplo, é comum que alguém pense que se refere a algo que fez, ou quando alguém volta de uma eliminação, pensa que as pessoas aqui fora concordam com o que tem feito (e não que outras questões, como a rejeição a outro participante, fossem mais relevantes). Também é comum interpretarem sonhos e intuições como sinais enviados para si, e verem a si mesmos como protagonistas, queridos ou odiados pelo público.

Considerar-se no centro dos acontecimentos é algo marcante na história do Ocidente, com a noção de que o ser humano é especial entre os outros seres, ou de que indivíduos são os únicos responsáveis por aquilo que lhes ocorre em suas vidas. Isso não é universal, existem culturas que pensam o ser humano como parte de um todo, como mais um ser entre outros, como coadjuvante numa história muito maior que nós. Podemos andar eretos, falar e pensar, mas das nossas características não decorre que sejamos o centro de tudo ou mais importantes do que o resto.


Mesmo no Ocidente, viemos sendo destituídos do trono da arrogância ao longo dos séculos. Porém, isso não ocorre facilmente. Muitos daqueles que contestaram sofreram com a ridicularização, com o esquecimento ou até mesmo pagaram com suas vidas. Com os estudos de Copérnico e de Kepler, a Terra perdeu o posto de centro do universo. Com a teoria da evolução das espécies de Darwin, entendemos que fazemos parte de um processo evolutivo dos seres vivos, e não de algo especial e separado. Com Freud e a noção de inconsciente, pôs-se em questão o quanto somos senhores de nós mesmos, já que grande parte de nossas ações são determinadas não pelo racional, mas inconscientemente.


É um desafio dar-se conta do nosso real tamanho e posição, dado que é muito mais sedutor julgar-se importante demais, como pessoa ou como espécie. O que se conquista, quando saímos do pedestal, é uma outra aproximação da realidade, alegrias mais reais e dores mais apropriadas. Dá pra desfrutar de um jogo mesmo que você não seja dono da bola nem dite as regras; dá pra aproveitar uma festa mesmo que você não seja o aniversariante; dá para não se sentir o único culpado caso uma doença lhe acometa; dá pra considerar o azar quando seus planos não se concretizarem.


O mundo segue sendo bastante interessante mesmo que não sejamos o seu centro. E é bom nos acostumarmos com a periferia, pois quanto mais o conhecimento avança, e a vida acontece, mais vemos que aí é nosso lugar.

Guilherme Sant'Anna é psicólogo (CRP 05/57577) formado pela UERJ e atualmente cursa o mestrado em Psicologia Social nessa mesma universidade. Ele realiza atendimentos de psicoterapia online, se você quiser entrar em contato pode fazê-lo pelos seguintes meios: Instagram: https://www.instagram.com/guilhermesantanna.psi/ E-mail: guilhermesantpsi@gmail.com Medium: https://medium.com/@guilhermesantannapsi Whatsapp: (21) 988021858


*Foto por Rob Curran no Unsplash

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