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Foto do escritorGuilherme Sant'Anna - Psicólogo

PSICOnews | O terrível peso de ser feliz

“Pense positivo, veja o lado bom das coisas! Não seja pessimista, a vida é boa. Isso não é problema de verdade, não fique triste por isso”

Você já deve ter ouvido alguma dessas frases ao expressar sua tristeza para alguém. Quem diz essas coisas espera ajudar, afinal, acredita-se muito que o estado de felicidade deveria ser o normal da vida, e que a tristeza é apenas um erro ou um sinal de doença. A questão é saber se esse tipo de conversa ajuda, se é que se conversa quando não se compreende a tristeza de alguém.


Não se sentir compreendido ao falar de uma tristeza é algo comum em nosso tempo. A maioria de nós não foi ensinada a viver a tristeza - nossa época é obcecada pela felicidade, considerando-a como algo que se conquista e permanece, não como um acontecimento passageiro. Além disso, julgamos que estarmos felizes (ou não estarmos tristes) é algo que está completamente em nossas mãos, que é obra de cada um.


Em outras épocas, as concepções de felicidade e tristeza eram diferentes. A ideia de eudaimonia para os gregos antigos, a qual se aproxima do que hoje chamamos de felicidade, tem a ver com ser acompanhado de bons espíritos. Não depende só do resultado do que se faz, mas sim de uma ocasião. A tristeza, por sua vez, não era considerada como algo que deve ser eliminado da vida, tampouco como um sintoma de um transtorno mental, como atualmente.


Por mais difícil que seja estar triste, especialmente quando o mundo não compreende esse estado, a tristeza faz parte da vida, e costuma ser mais evidente que a felicidade. Na canção de Vinicius de Moraes aprendemos que "tristeza não tem fim, felicidade sim", mas é na vida que temos o desafio de aprender com a tristeza. Como diz Rubem Alves, a tristeza tem seu lugar na alma e ensina a compaixão, pois é na tristeza que compreendemos o sofrimento dos outros. E é a compaixão aprendida na tristeza que nos faz falta quando, impacientes, dizemos aos outros que eles deveriam estar felizes.


Um espaço em que o compartilhamento da tristeza pode acontecer é na psicoterapia, uma vez que o terapeuta não está ali para julgar e ditar caminhos, mas para ouvir e compreender. Em psicoterapia a proposta não é bloquear a tristeza, dizendo que ela não deveria existir. Mas acompanhá-la, caminhar junto dela no seu ritmo, entender de onde ela vem e pra onde vai. Assim, a tristeza pode deixar de ser um peso nas costas, para se tornar uma companheira de viagem. Acompanhados dela podemos enxergar, por contraste e sorte, a felicidade no caminho.


Guilherme Sant'Anna é psicólogo (CRP 05/57577) formado pela UERJ e atualmente cursa o mestrado em Psicologia Social nessa mesma universidade. Realiza atendimentos de psicoterapia online, você pode entrar em contato com ele pelos seguintes meios:

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