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Assassinato em primeiro grau

  • Foto do escritor: Alexandre Madruga
    Alexandre Madruga
  • 18 de nov. de 2010
  • 2 min de leitura


Pochetes: triste fim


É com uma imensa tristeza que venho informar a todos: os austeros dias da pochete acabaram. Definitivamente, mataram-na sem dó nem piedade. Estou de luto e não nego. Ela, que sempre esteve além do impacto gritante da moda, dos rostos encerados das modelos esculturais, que se punha à frente de seu tempo resguardando os bolsos esquecidos, que era quase uma bolsa e oferecia a valia grande de não termos que carregá-la nas mãos, incômodo antigo das sacolas, suas amigas, foi-se sem deixar lembranças. Muitos sequer sabem sobre a revolucionária portadora de fechos-ecleres (é assim que se escreve?), uma triste realidade histórica.

De couro, sintético, plástico, tricô e diversos outros materiais, as pochetes faziam a cabeça de quem às portasse. Não tinha marmanjo que ficasse fora dos olhares do sexo feminino com uma pochete volumosa.

Mas foram desviadas por alguém de quem não sabemos o paradeiro. Talvez algum estilista revoltado por brilharem mais que suas famosas roupas de retalhos.

O mais triste é que existem algumas transgênicas, modificadas geneticamente, imitações baratas que jamais terão o mesmo glamour de suas irmãs legítimas. Alguma coisa de diferente nota-se nesses clones. Já vi uma ou duas e digo que não são a mesma coisa. A cor, o material, parece que tudo não passa de um terrível sonho moderno. Algumas têm fechos-ecleres demais e outras de menos. Até a forma de utilizá-las está diferente. Há uma reclusão no ar. As antigas pochetes tinham um “quê” de classe ao serem vestidas. Ao lado do quadril, do lado esquerdo ou direito; à frente da cintura, maneira rápida e usual de nos relacionarmos com elas; na cintura, voltadas para trás, em um estilo mais reservado. Todas um trunfo de quem quisesse estar na moda.

Outras maneiras, não tão difundidas, mas de igual valia, como segurá-las sobraçadas ou transpassadas pelo ombro, deixando-as frente ao peitoral, uma forma bem mais forte de sua usabilidade, também eram exploradas. Enfim, utilizadas conforme a vontade de seus donos. E continham as mais variadas necessidades, como chaves, documentos, dinheiro, fotografias, remédios, batons, espelhos, pentes, rádios portáteis e quinquilharias.

Já possuí diversas delas, em várias cores e marcas diferentes. E como me livraram do sufoco! É incrível como as pochetes nos salvavam do esquecimento bem no momento da precisão. Imagine necessitar daquele item indispensável que, quando procurado no bolso, não se mostrava presente. Num sufoco e último suspiro, você o encontra na sua querida pochete. Eram imbatíveis. Clássicos trocados por malas modernas.

Agora que se foram, as coisas perderam a graça. A modernidade acabou por esquecê-las. E digo que mesmo assim não há modelos de Fashion Week tão mais belos do que exibir uma perfeita e elegante pochete. Assim como os Tatuís, elas deveriam ser lembradas em forma de monumento nacional. Imaginem se a Giselle Bündchen desfilasse na Fashion Week com uma linda pochete incrustada de pedras de brilhantes? Certamente o estilista seria reconhecido nos quatro cantos do mundo e a Fashion Week seria, além de registrada historicamente, muito mais bela visualmente.

Sem pochetes sobraram às sacolas de mercado, que também estão com seus dias contados.

A moda sempre está fora de moda.

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