PSICOnews | Cuidar de quem cuida

A importância do apoio social àquele que cuida
Pacientes de Câncer por muitas vezes sentem-se sozinhos sem apoio familiar. É um momento onde muitos se afastam. Segundo a coordenadora e também paciente do Grupo “Unidas para Sempre” (Grupo de pacientes de câncer de mama), Jaqueline Chagas, informa que a maior queixa é o abandono familiar durante o processo da notícia e tratamento. Acham que a doença “pega” ou não querem cuidar e exercer amor.
Alguns aspectos podem ser considerados neste momento de muita fragilidade na relação paciente-família. Devemos considerar que a família pode não estar preparada para assumir o cuidado, necessitando inicialmente ser informada sobre a doença e o tratamento. Neste caso, é necessário um apoio social que pode envolve fatores emocionais (afeto, estima, aconselhamento), instrumentais (ajuda prática ou auxílio financeiro) e àqueles da vida diária focados na orientação de problemas. O apoio social pode ser entendido como uma forma de ajuda para membros familiares aprenderem a priorizar e administrar os problemas e trabalhar colaborativamente com o sistema de cuidado à saúde e promover assim, melhorias na qualidade de vida nas famílias, para o bem estar das pessoas.
Percebe-se uma sobrecarga e angústia nos membros familiares e uma ausência de estratégias efetivas de apoio. O que mais preocupa o familiar é o cuidado. E a partir do momento que este passa para o papel de cuidador, diversas crenças vêm à tona que precisam ser resignificadas. Pensam em como manter o conforto, as condições necessárias para o tratamento, como informar as mudanças de condições no tratamento, como equilibrar as demandas de cuidado com as outras demandas pessoais e profissionais e a grande angústia, de o que o futuro reserva para ele e o paciente.
Aquelas pessoas que estão efetivamente envolvidas na jornada do paciente com câncer, tem a sua vida diretamente afetada, pois envolve mudanças adaptativas. Exercer o papel de cuidador de uma pessoa com câncer, além de afetar sua saúde mental, causando: depressão, ansiedade, sobrecarga, conflito de papéis, incerteza, erosão nos relacionamentos, entre outros problemas, também afeta sua saúde física causando fadiga, declínio da saúde, falta de exercícios, nutrição precária e necessidade de medicamentos. Desta forma, os cuidadores devem também ser reconhecidos como pessoas que passam por um processo doloroso e que precisam de ajuda, apoio e orientação. Enfrentam diversas fases como o aprendizado sobre a doença e o cuidado, culpa relacionada ao cuidado, o tornar-se mais paciente e acolhedor seguidas pela necessidade de obter forças externas como a religiosidade, grupos de apoio e ajuda profissional. Dentre estes três últimos vimos a religiosidade como um grande ferramenta de apoio social neste processo. A espiritualidade se apresenta como apoio importante na construção de significados da vida para a família. Ela pode promover as relações sociais e estabelecer formas de assistência, como cuidado espiritual na fase de angústia aguda da doença. O suporte religioso inclui orações, procura de conforto de alguém da fé e obtenção de apoio de membros da igreja. Sendo assim, é fato que o apoio espiritual de forma moderada promove à melhor saúde mental, melhor adaptação psicológico dos pacientes e seus familiares com diminuição da depressão. Vale ressaltar que pesquisas demonstram que a religiosidade representa uma grande influência positiva no bem estar emocional dos conjugues de doentes com câncer, os quais tem recebido escassa atenção. Estes buscam um significado positivo nas adversidades perante a doença, e encontram na religiosidade crenças e práticas espirituais de enfrentamento e uma maneira de promover a melhora na qualidade de vida. Neste cenário, o cuidador sente-se acolhido pela proteção de um ser superior que o acompanha e o ajuda a enfrentar os obstáculos advindos perante todo este processo de adoecer.
Não podemos esquecer que a família é afetada pela doença, e a dinâmica familiar afeta o paciente. Sendo assim, aquele que estará “junto” da pessoa que iniciará a luta contra o câncer, aqui denominado “cuidador” necessitará de apoio social que promova o seu bem estar físico, emocional e espiritual, para que assim eles possam estar em constante equilíbrio para ajudar àquela pessoa querida que tanto precisa de ajuda neste momento de enfrentamento da doença.
Não podemos esquecer que aquele que cuida também precisa ser cuidado!
Ericka Gama é Psicóloga
CRP: 5ª/33900