NAMORALnews | Delivery de drogas, quem são os culpados?
No último mês foi noticiado que a Polícia prendeu uma quadrilha que fazia delivery de drogas nas Zonas Sul e Oeste na cidade do Rio de Janeiro, fui verificar o que dizem as pesquisar para nossa reflexão desta semana. Em uma das pesquisas, afirma que são os jovens ricos os que mais usam drogas. Seriam eles então os culpados pela violência do tráfico? O que podemos falar sobre isso? O que você pensa disso?
Madrugada no morro. Um grupo de policiais ataca de surpresa uma boca de fumo e mata dois traficantes. O Capitão Nascimento pega um dos consumidores pelos cabelos e o obriga a pôr o rosto nos buracos de bala no peito do bandido morto. O rapaz, apavorado, diz que é estudante, na tentativa de se defender.
- Quem matou ele? (Pergunta o capitão, aos berros). - Não sei (Responde o rapaz). - Não sabe? – Quem matou ele? (Pergunta o capitão). - Vocês, foram vocês! (Responde o rapaz). - Nós? Quem matou ele foi você! A gente vem aqui limpar a m** que você faz! (Diz o capitão)
Não é à toa que essa cena, do filme Tropa de Elite 1, é uma das que mais chocam os espectadores. Ela toca numa questão crucial do tráfico: a taxa de responsabilidade dos consumidores.
Em outra pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas aponta para uma parcela da elite. Maconha e cocaína no Brasil são bens de luxo, para a população com maior poder aquisitivo. De acordo com o levantamento, o consumidor-padrão de drogas no Brasil é homem, tem entre 20 e 29 anos, é da classe média alta e mora com os pais. Gasta, em média, R$ 145 por mês com drogas. “Estatisticamente, a visão de Tropa de Elite é correta: quem financia o tráfico é a classe média”, poderíamos analisar assim.
Sabemos que embora ilegal, o tráfico de drogas não desobedece outro tipo de lei,a do mercado. Se não houvesse comprador, não haveria venda. O consumidor garante o comércio, mas não é ele quem produz a violência. Drogas são vendidas no mundo todo.
Ai entra outra pergunta. Mas vender droga não implica dominar comunidades inteiras, como os chefões fazem no Rio de Janeiro? Podemos responder que chegamos a esta situação devido à ausência do Estado nas favelas e também à corrupção policial, que apreende as armas de um traficante e revende para outro. Enfim teríamos várias “respostas”.
Culpar o consumidor não está na solução para o Brasil. No Brasil, onde existe uma guerra permanente entre policiais e traficantes pactuadas pelo Estado. Além disso, ainda temos a dita legislação quem for pego consumindo será julgado num juizado especial, mas não criminal. A pena, que antes podia chegar à prisão, agora é de prestação de serviços comunitários. A engrenagem que sustenta o tráfico não se alimenta apenas do consumidor. Hoje, quando se pergunta a um cidadão quais são as maiores preocupações dele, as drogas têm aparecido com frequência crescente.
E o que dizem os próprios consumidores?
Ulisses, de 34 anos, comprava maconha de um traficante no prédio onde mora. Aos 23 anos, foi preso em flagrante, mas não ficou na cadeia. Por dois anos, foi obrigado a comparecer mensalmente ao fórum. Cumprido o prazo, tornou-se novamente réu primário. Continua fumando maconha e usando outras drogas, admite que a droga financia a violência, mas acredita que o usuário é a maior vítima desse processo. “Dizer que quem compra um baseadinho não financia o tráfico é acreditar que quem compra um comprimido de aspirina não sustenta a Bayer”, relatava sempre nos atendimentos.
Embora a visão do Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, seja limitada e simplista a ponto de pôr no usuário de drogas toda a culpa pela violência nos coloca o assunto sempre em pauta.
Na Moral, ao capitão Nascimento da ficção e aos da vida real, o problema das drogas já não diz respeito só aos dependentes químicos, sejam eles ricos ou pobres.
Mas para toda população em geral que está preocupada é com as soluções, tanto que o assunto já começa aparecer entre as prioridades do eleitor brasileiro e por que não especificamente ao eleitor do Rio de Janeiro.
Ane Louise Michetti dos Anjos é psicóloga, especialista em dependência química, politicas pública em saúde, irremediavelmente apaixonada e ainda aprendiz na arte de ser dona de casa.
Créditos da imagem: Tropa de Elite - Missão Dada é Missão Cumprida,2007.