Editorial: Nenhum político quer saber da Sulacap. Por quê?
Moro no bairro desde 1975. Lá se vão 42 anos de Sulacapense na veia. Tive infância cheia de brincadeiras que hoje soaria estranho para geração “Z”. Brinquei de bandeirinha, queimado, carniça, pique pega, futebol no asfalto (como não se lembrar de arrancar tampão do dedão), corrida de chapinhas e até vôlei na rua. Nessas mais de quatro décadas, acompanhei (nem tanto) atentamente o crescimento do bairro. Minha rua, no loteamento, sequer tinha asfalto ainda. Lembro das ruas todas abertas, da liberdade, do subir nos morros para pegar jaca, pindoba, coquinho de catarro, jáca e ir ao tangerinal. Acreditem, tem gente que fez muito mais do que eu.
Quando passei minha maravilhosa adolescência, estudando no tradicional Colégio Guanabara da D. Francisco e seu Francisco, comecei a perceber o meu entorno e comecei a olhar pelo bairro. A responsabilidade me veio cedo, me tornei pai na casa dos 20 e poucos anos. Então, meus olhos se abriram ao que poderia fazer pelo bairro. Em 1997, junto com outro antigo morador do bairro, George Artur, resolvemos fazer o jornal do bairro, após algumas tentativas frustradas de outros moradores e da própria associação de moradores. A Folha de Sulacap foi um caminho audacioso para esse jornalista, que sempre se pautou pelo jornalismo popular e comunitário, sendo até meu tema de Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de Comunicação Social pela UNISUAM. Apliquei nos meus trabalhos essa visão comunitária, dando valor ao comércio e atividades locais. Olha os atores dos bairros, descobrindo como temos tantos artistas, poetas, personalidades e pessoas importantes, que fazem bem social sem jamais terem reconhecimento. Esse era meu desafio, fazer o bairro sair da sombra e mostrar que, além de lindo, bucólico e aconchegante, também é berço de gente boa, competente e capacitada.
Durante 12 anos lutei pelo bairro da minha forma, divulgando, cobrando autoridades e sempre tendo conquistas importantes, pela força que a mídia tem. Como a vida nos leva para vários caminhos, fiquei distante cuidando da minha profissional por outros locais, mas ano passado, voltei com carga total a mídia comunitária, graças ao convite do amigo Gabriel Varella que me ofereceu o Sulacap News para retomar meu trabalho pelo bairro.
Essa é a minha maneira de ajudar e colaborar com o bairro. Divulgar, cobrar, exigir que a Lei seja seguida, independente de quem for. Prezo o certo, pelo certo. Aos verdadeiros amigos, sabem que não passo a mão na cabeça e exijo tanta correção, quanto daqueles que não tenho contato ou conheço. E nessa nova empreitada, mais experiente, com 20 anos de profissão sendo completados em setembro, vejo meu bairro com um olhar triste, mas sempre otimista.
Jardim Sulacap está abandonado. Muitos bairros do município do Rio elegeram representantes na Câmara ou Assembleia e contam com estes para atenderem importantes (e necessários) pedidos que ajudem. E nós? Quem temos?
Ontem, na inauguração da loja da Foz Águas 5 no Parque Shopping Sulacap, encontrei com o vereador Marcelino d´Almeida, que durante muitos anos era um político com atuação no bairro, já que como morador do Valqueire, sabia e conhecia das necessidades do bairro. Tinha moradores no bairro que eram integrantes de sua equipe de trabalho. Pois na eleição municipal do ano passado, após ficar em 3º lugar nas urnas do bairro, resolveu deixar o bairro e largou a oportunidade que tinha para indicar um Supervisor Regional para Sulacap, ficando com a 33ª Região Administrativa de Realengo, ao qual também tem reduto eleitoral. Marcelino ficou revoltado por perder para Tarcisio Moura (PSOL), que ficou em segundo lugar. Retirou integrantes que eram desagregadores, que não pautavam pela união e transferiu para outros locais os integrantes que achava importantes.
Oficialmente criada em janeiro, a Supervisão Regional de Sulacap e Magalhães Bastos perdeu a sede que tinha aqui no bairro, no Galpão Comunitário, e até hoje não tem titular na pasta e sequer previsão que isso aconteça. E sabem por quê? Quem esteve na reunião no Galpão Comunitário ontem (3/08), ouviu mais uma dura realidade, num depoimento sincero do Superintendente de Bangu, Adilson Ribeiro, e mostra porque não temos alguém nomeado na Supervisão Regional para o nosso bairro. Os políticos não querem trabalhar pelo bairro, por considerarem o “bairro fechado”, indicando que os moradores não têm comprometimento com nenhum político, mesmo que esse viesse e fizessem várias obras significativas. Nessa linha de raciocínio, eles pensam que “para que fazer algo lá se não vou ter nenhum reconhecimento nas urnas?”.
Apesar de criticar esse tipo de postura, não há como negar a realidade desses “modus operandi” desde que a política é política. O cenário ideal não é o cenário real. Muitos moradores são esclarecidos, com educação superior (ou vasta experiência) e agem conforme deveria ser a postura de um político com mandato. Mas, como eu disse, não é essa a realidade dos fatos e enquanto sonhamos com o “cenário ideal”, ficamos a ver navios e ver bairros recebendo grandes reurbanizações, praças com campo de grama sintética, escolas municipais reformadas mais de duas vezes, ruas com recapeamento e asfaltamento trocados rotineiramente, guardas municipais atuantes e circulando próximos as escolas, enfim, tantas coisas que os sulacapenses necessitam e precisam, mas hoje somos todos apenas platéia, sem mobilização, sem unidade. Independente das críticas a associação de moradores local, a nossa Amisul, a participação popular é praticamente nula, aja vista que as mesmas pessoas permanecem lá desde a fundação. Seriam eles os únicos culpados? O morador sequer “grita” num whatsApp ou email. Está tão conformado com a orfandade política, que somente aparece vaiando ou aplaudindo (isso, quando aplaude).
Passou da hora do bairro acordar. Buscar representantes que se importem conosco, apoiar, eleger este para que a Sulacap tenha uma representatividade que mereça. Temos tantas coisas a conquistar. Projetos sociais para idosos, adolescentes, melhorar nossas escolas, cuidar do nosso ambiente, reformar nossa principal estrada, retomar nossa vocação pelo ciclismo e caminhada, enfim, citei algumas coisas, mas temos tantas. Sulacap precisa acordar e se mobilizar, juntar num único grupo ou, pelo menos, num grande e significativo grupo.
Temos um povo bom, esclarecido, caridoso e que sabe reconhecer um bom trabalho. Recebo elogios pelo meu trabalho no Carnaval Infantil da Praça H (que caminha para 23ª edição, isso mesmo 23 anos de vida), que graças ao Fernando Petico (idealizador e hoje fiel parceiro) é uma realidade e já faz parte do calendário oficial do bairro. E isso é apenas um evento de entretenimento, algo pequeno e mesmo assim, o morador sabe dar valor e reconhecimento. Imaginem alguém que consiga melhorar o bairro como um todo, estando presente, ouvindo e ajudando os moradores de forma direta? Claro que o morador vai apoiar e ajudar.
Então, busquemos esse nome, levantem essa bandeira. Nenhum político nos quer, então vamos eleger um, ajudar alguém capaz, com pensamento comunitário e colocar ele lá na Câmara ou Assembleia, sendo um representante fiel de nosso Jardim Sulacap. Que tenhamos voz, vez e façamos parte do cenário de significativas e importantes intervenções dos governantes.
Somente sendo um, seremos forte. Se não tivermos unanimidade, ao menos sejamos maioria em torno de alguém, que realmente possa ser reconhecido como “o cara” do bairro e nosso fiel escudeiro no meio de tantos politiqueiros.
Força Sulacap! Acorda, pois somente conquistaremos quando formos bem representados.